quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Há 35 anos, Fittipaldi levava carro nacional ao pódio do GP do Brasil

Diante da torcida que lotava as arquibancadas na primeira visita da Fórmula 1 ao Rio de Janeiro, segundo lugar marcou o auge da equipe Copersucar
O GP do Brasil de 1978 começou em clima de festa. Antes mesmo de os carros alinharem para a largada, o público já lotava as arquibancadas, prestigiando a primeira corrida de Fórmula 1 disputada no novo autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Após sete anos consecutivos em Interlagos, São Paulo, o circo da categoria enfrentava o intenso calor da cidade em um fim de semana que entraria para a história da equipe Fittipaldi e do automobilismo brasileiro. Com o bicampeão Emerson ao volante, o carro amarelo de número 14 não decepcionou a torcida carioca, conquistando um inédito pódio ao fim das 63 voltas. Não foi apenas o melhor resultado, mas também o auge do sucesso de uma aventura idealizada pelos irmãos Fittipaldi na F-1.

Emerson Fittipaldi com Carlos Reutemann e Niki Lauda no pódio do GP do Brasil de Fórmula 1 1978 (Foto: Reprodução) 
 
Fittipaldi com Reutemann e Niki Lauda no pódio do GP do Brasil de Fórmula 1 1978 (Foto: Reprodução)

Até aquele dia, o carro da equipe brasileira – chamado, na época, de Copersucar, nome de seu principal patrocinador – havia batido na trave por um lugar entre os três primeiros colocados. Nas pistas desde 1975 (único ano em que Wilsinho esteve ao volante), o bólido construído em uma oficina em frente ao autódromo paulistano chegou três vezes em quarto lugar, todas com Emerson, ao longo da temporada 1977. O que deu à equipe um ânimo renovado para 1978. E logo na segunda prova do ano, ainda no fim de janeiro, veio o tão sonhado pódio. Fruto de uma atuação fantástica do bicampeão mundial, que retribuiu o carinho das arquibancadas com uma excelente segunda posição na linha de chegada.
- Foi uma emoção fantástica conquistar aquele resultado no Brasil, com as arquibancadas lotadas, num dia de muito calor em que nosso carro estava realmente bom. Foi uma pena não termos vencido. Este segundo lugar foi conquistado na pista, ultrapassando carros mais fortes, sendo que ninguém quebrou à nossa frente, isso é importante frisar – relembra o bicampeão.
Mas se engana quem pensa que aquele foi um GP fácil para o piloto brasileiro. Acostumado às vitórias e aos títulos em sua bem sucedida carreira, Emerson não terminava uma prova entre os três primeiros desde o encerramento da temporada 1975, na última corrida dele pela McLaren. Na Copersucar, foram muitas quebras e também muito empenho para levar o sonho canarinho à elite do automobilismo mundial. Em apenas dois anos, o trabalho de Emerson no cockpit do carro nacional transformou tudo aquilo em realidade.

Emerson fittipaldi copersucar gp do brasil jacarepaguá (Foto: Agência Getty Images)Emerson estava há três anos sem subir no pódio
de uma corrida (Foto: Agência Getty Images)
À frente de McLaren e Lotus
Enfrentando equipes tradicionais e campeãs, Emerson desvendou os segredos do novo traçado e marcou o sétimo tempo no treino classificatório. Na corrida, fez boas ultrapassagens e superou forças como as McLaren de Patrick Tambay e James Hunt, as Lotus do campeão e do vice daquele ano, Mario Andretti e Ronnie Peterson, e a Ferrari de Gilles Villeneuve. Só não deu para ganhar o primeiro lugar do argentino Carlos Reutemann, companheiro de Villeneuve, que disparou na frente e venceu a prova.
Além da pilotagem de Emerson, o bom resultado se deu também pela resistência do FD04 – sigla referente ao quarto modelo construído na parceria dos irmãos Fittipaldi com o projetista Ricardo Divila. Um jovem engenheiro brasileiro que ingressou na Fórmula 1 justamente com a missão de desenhar um carro 100% nacional para a categoria. E que lembra, com certa tristeza, que aquela foi a grande oportunidade do time para conquistar uma vitória, antes de uma brusca mudança de regulamento que mexeu com a relação de forças da F-1 a partir do ano seguinte.
- Foi bom, mas não ganhamos. E não ganhamos porque a Ferrari estava de pneus Michelin, e para pegar eles com aquela temperatura, não dava. Na classificação tivemos alguns problemas, e o carro chegou em segundo lugar de verdade. Ninguém quebrou na corrida, foi legal. Mas nunca vencemos uma prova com o Fittipaldi, e aquela era a ocasião. Depois, começou a mudar o circo de novo, e fomos ficando para trás. Mas naquele ponto, pelo que tínhamos andado nos testes de pré-temporada, estávamos mesmo confiantes – resume o projetista.

Emerson Fittipaldi guia o carro de Fórmula 1 da Copersucar no GP do Brasil de 1978 (Foto: Reprodução)
 
Fittipaldi guia o carro de Fórmula 1 da Copersucar no GP do Brasil de 1978 (Foto: Reprodução)
 
Além de Divila, que atualmente trabalha para a Nissan no desenvolvimento de carros com tecnologia híbrida para corridas longas, como as 24 Horas de Le Mans, a equipe contava em seu staff de engenheiros com um britânico em início de carreira que já aplicava aos poucos suas ideias: Adrian Newey, atualmente o mais cobiçado projetista da Fórmula 1, responsável pela fase de domínio da RBR e por carros campeões nas equipes Williams e McLaren desde a década de 1990.
Mesmo com apenas um carro na pista, a equipe Fittipaldi terminou aquele ano de 1978 à frente de times como Williams, McLaren e Renault, que disputaram os títulos das temporadas seguintes. Mas só voltaria ao pódio em 1980, quando a situação financeira já não era das melhores. Apesar das posições promissoras no Mundial de Construtores em tão pouco tempo de vida, o time foi vítima de inúmeras cobranças da imprensa brasileira, ávida por vitórias e títulos. Mais tarde, a ausência de um patrocinador principal tornou a situação insustentável, e os irmãos Fittipaldi optaram por fechar as portas ao fim de 1982.

Emerson Fittipaldi recebe a baneirada com o carro da Copersucar no GP do Brasil de Fórmula 1978 (Foto: Reprodução)
 
Fittipaldi recebe a baneirada com o carro da Copersucar no GP do Brasil de 1978 (Foto: Reprodução)
 
Fim do palco da festa
Trinta e cinco anos depois daquele pódio, nem mesmo o autódromo de Jacarepaguá restou para contar história. Com o asfalto, os boxes e arquibancadas demolidos, a área já está sendo transformada em um parque poliesportivo para as Olimpíadas de 2016. Triste fim para aquele sonho de um domingo de verão.
Protesto Autódromo Internacional Nelson Piquet Jacarepaguá (Foto: BRUNO TURANO/BRAZIL PHOTO PRESS/Agência Estado)
 
Pista do Autódromo de Jacarepaguá sendo retirada (Foto: Bruno Turano / Agência Estado)

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